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ARTE

segunda-feira, 29 de junho de 2009

MATILDE ROSA ARAÚJO (1921)


São feias as casas dos emigrantes
Estilhaços na paisagem verde e granito velho
Agora azulejos de banheiras frias telhados tombados
À espera da neve estrangeira que não vai chegar
Persianas de alumínio varandas onde ninguém se debruça
Escadas a fugirem da porta
São feias mas eu amo-as com a ternura impotente do só amar
Vejo ontem os pobres a pedir em fila de lamúria
Humilhante e humilhada ao longo da estrada
As crianças de barrigas grandes e cabeças feridas
A purulenta húmida miséria de outrora
E agora nem talvez tão pouco mudassem
Neste mês de Agosto vêm como as aves
Mas em estação completa para fazerem o ninho
E de ano a ano constróem casas novas gritos
De um ter sem alegria ter escorraçado que amarga
E casam-se antes do ninho em festa de gritos
Buzinas uivos de animais mecânicos
Tules brancos nos carros na cabeça espelho rico da noiva
No próprio vinho
Cabeça espelho de miséria antiga espelho errante
E não quebrado
Na corrida para França algumas aves morrem
Morrem pelo caminho atordoadas
E a paisagem ferida com azulejos telhados alumínios
Policrómicos ninhos que não encontram raiz para nascer
Agulhas espetadas nas almofadas dos montes
Espetadas por mágicos dedos dos que vivem sem pátria.


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