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ARTE

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

MÁFIA ANTIGA







Noite de todas as ambições
Coragem da perdição
A iniciação
Há quarenta anos
Ilusão

Bem pode ter sido verdade
Ou pura imaginação

Uma cave clandestina no anonimato da ditadura Mulheres seminuas esgueiravam-se por detrás das mesas de veludo vermelho Havia cartas ao centro Uma rainha de copas e um rei de espadas numa delas
Negócios sinistros encapuçados
O fumo do cigarro mais reles misturava-se com o dos charutos cubanos Frenética a erva adocicada sorvida pausada e vagarosamente
As luzes sorriam piscando para o ringue improvisado
Nos fundos encomendava-se um serviço A morte entrega-se sempre nos cantos da libertinagem
Sabia
Ninguém o dissera
Mas conhecia aqueles olhos brilhantes do mecânico de quem sem rosto vai matar o que rosto para ele não tem
No tapete vermelho do ódio rasgado pela vendetta
Um Colt 38 ou 40 visível crespo e ameaçante
Quem seria desta vez? Alguém
Uma alma que o Diabo ou Deus hoje já tem
Ou que não é de ninguém

Algumas estrangeiras do Norte rodearam-me Estátuas gregas vivas
Audazes
Havia ainda uma venezuelana quase nua pele escura a brilhar
E portuguesas acanhadas
Mal-acabadas
Lânguidas fêmeas
Pedradas
Curiosas És tu que vais lutar?
Palavras em charco de tensão muscular de quem aguarda disputa sem voz

A cidade nunca mais seria a mesma
Iria arruinar-me com ela
Luta após luta
Puta atrás de puta

O Patriarca da Família senta-se
Obedeces primeiro
Não demandas e um dia mandas
Só sabe comandar quem souber obedecer
Cegamente
Cegamente moço
Diz com a solenidade dum pinheiro nórdico a resistir aos ventos do Árctico
Trazemos nos corações a frieza dos rios gelados das montanhas nevadas e da negrura dos fossos ensanguentados
(Uma faca acerada tributa gotas de sangue no vodka puro)
Bebe
O teu sangue é nosso
Com ele
Tropeçaremos nos cadáveres dos adversários
Não há homem nem deus que não tenha inimigos e traidores
Que não haja
Lei nem ordem nem pecado nem piedade
Esquece quem morre
Corpo separado da cabeça rolada
É um nada

A hora interrompe o discurso
Pesos pluma
O ringue improvisado

Tira o roupão Dizem

O polaco era baixo de vermelho e encorpado
Eu alto de negro e magro
Vozerio gritos estridentes das gaiatas
Dois rounds a parar golpes
Terceiro round
Dois golpes baixos do estrangeiro
Raiva e ódio
Um jab a medir a distância
Um hook frustrado
Um novo frontal a abrir luvas velhas
Cross furioso
Jab Jab Directo
Jab-directo
e Uppercut
A lembrar a dança
De Shozo Saijo
O polaco no tapete
Cambaleante
Arrasta-se e sai
Esforço inglório
Technical knockhout
E vai

A música martelava as paredes dos ouvidos inebriados
Sangue vivo no sobrolho
Dor no baixo-ventre
As nórdicas despem-se
Na mesa de poker centenas de notas
Um beijo do Patriarca K...
A selar o compromisso
A comemorar a vitória
Do terno de oiros
Inscrito em luvas de napa

Bem vindo ao Inferno
Dos Vencedores
Bebe
Usa as mulheres

Disse

(Está velho mas ainda vive)


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